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terça-feira, 24 de março de 2009

A morte da borboleta.


Meio-dia,

Pega tuas coisas enfia na bolsa sai correndo...

Olha q vai perder o ônibus,
Chega correndo esbaforida no ponto e espera o monstrengo metálico chegar,

E chega estalando e businando e rangendo,

Com todos passageiros que rangem como ele,

Rangem de cansaço de fome, de tanto falar sobre nada e de tão cheios de vazio,

Passam pelo motorista e cobrador como se estes fossem também de aço e soldados aos canos,

Rostos suados, enrugados,

Cobertos de marcas e de cansaço,

As crianças parecem bem mais velhas com seus olhos graves e pensativos,

Se acotovelam, tropeçam, tossem, espirram respiram

Um espetáculo teatral grotesco como freak shows de circos itinerantes...

Uma curva à direita no largo do arouche...

O inseto singelo e delicado voa languidamente...

De asas alaranjadas como se quisesse guardar pra si o brilho do último pôr-do-sol antes q as partículas de sujeira cobrissem o último pedaço de céu,

E voava tão suavemente

Que entre o abrir e fechar de asas cabia toda a eternidade de cada sorriso e cada beijo,

Desenhava linhas sinuosas em seu vôo

E mostrava, tal qual uma dançarina burlesca mostra as ligas, a parte negra interna de suas asas,

Negra com pequenos pontos brancos,

Pedaços de noites de verão recordados e guardados para emergências futuras,

Pra noites nas quais apenas olhar para uma estrela resolve,

E o fragil inseto irradiava a magestade da sua rotina dançada,

Captando os últimos sinais da elegância em meio a brutalidade do viaduto,

Até se estatalar no vidro ao lado do meu banco,

E despencar ao chão carregando consigo o peso de todos os anjos decaídos,

e das almas corrompidas das crianças adulteradas,

Cede ao asfalto, à pedra e ao metal.

domingo, 15 de março de 2009

Optando pela apatia conformada, minha resignação à falta de afeto levou-me a reflexões tais que a tragédia escatológica da carência nao podia-se mais evitar...
Assisti ao último romance estúpido, e ao último videoclipe musical... e no último gole da última taça de vinho... E a frustração do surrealismo daquelas paixões fervorosas geram a ira incontrolável...
E quis quebrar o nariz arrebitado da mocinha de olhos claros de cada filme água com açúcar, e jogar petróleo em cada praia caribenha q eu nunca visitarei, e rasgar todos os vestidos de noiva e atear fogo aos seus buquês e assistir à alegoria do amor pueril correndo ensandecida altar abaixo com seu véu flamejante... E quis rasgar todas as telas de todos os pintores, e quebrar todas as esculturas, quis jogar uma bomba em todas as ruínas gregas com sua maldita proporção áurea, e arrancar os cabelos perfeitamente ondulados de cada top model magrela e borrar-lhe a maquiagem, quis gritar impropérios dentro da catedral de São Pedro e espalhar livros de kama sutra num convento, quis fazer um bebê rechonchudo chorar, e quebrar toda porcelana da dinastia Ming, quis fervorosamente destruir algo belo... algo belo e inalcansável para preencher todo esse nada que tem me consumido...
E conclui-se que já não é mais facultativo que meu estado emocional tenda a quase catatonia, é a solidão monocromática que me aleijou a alma nesses últimos dias...

domingo, 1 de março de 2009

Goodbye, Nice to know you


Me tomam durante essa semana considerações sobre a minha dificuldade em dizer adeus... No decorrer dos últimos meses encontrei pessoas que marcaram-me a ferro e a fogo com sua individualidade, sua cultura, suas expressões, sua liberdade e sua loucura porque não dizer... E fizeram tranto por mim que não posso deixar de lamentar o quanto falhei em retribuir. Pessoas que amei tanto em tão pouco tempo e agora se vão...

E eu queria ter fumado só mais um cigarro e terminar mais uma jarra de café...
Queria ter sentado em mais um bar barato e divagar e declamar todos os verbos advérbios e adjetivos de todas as heresias que pensava...
Queria ter ouvido só mais um vinil,
Queria ter dado só mais um mergulho,
E só mais uma risada e derramado só mais uma lágrima,
Eu queria poder vagar alcoolizada por só mais uma rua escura,
E ter tirado os sapatos na praia e enfiado meus pés na areia só mais uma vez...
Eu queria poder ter feito mais e falado mais e me armadurado menos...
Mas o sinal abriu e as hordas me empurraram pra atravessar a Paulista,
E o banco estava fechando e tinha uma reunião as 15:00
E já era meia noite na Coréia,
E o dólar baixou,
E estava presa no engarrafamento...
E ficou muito tarde...
Eu deveria ter agradecido mais, retribuído mais e exigido menos...
Mas agora não há mais tempo...
E eu sinto tanta falta,
E n consigo esquecer,
E vejo meus traços marcados pelo tempo no espelho,
E vejo q não é o tempo que os marca
E carreguei comigo um pedaço de cada,
Cada um dos que passaram me ajudaram a formar o patchwork psicológico psicodélico de mim
Carreguei o blues, os olhos de cigana oblíqua, a serenidade, a brincadeira, o sorriso, as piadas infames, as palavras difíceis e a poesia...
De um de outro formei um novo pedaço de mim...
E todos os segundos se tornaram infinitamente maiores e mais relevantes
Dessas flores de cerejeira que não seriam tão belas se não durassem tão pouco...
E dizer adeus não se torna tão duro talvez...
Talvez se torne um até logo
E talvez às voltas encontre um e outro outra vez
Destes tantos que foram meu início, cura e fim.