CLICK HERE FOR BLOGGER TEMPLATES AND MYSPACE LAYOUTS »

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Pessoa


“... Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado...

...Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Fernando Pessoa --- Poema em linha reta



Eu nasci pessoa
Nasci de gozo
Nasci bicho até os primeiros passos, dores, falas, cantos
Nasci da subjetividade, de tombos, barrancos, vertigens e uivos

Fui esculpida pelo tempo, pelas minhas impressões
Me acomodei a linguagem, as roupas, as ruas
Mas já conheço os símbolos, as representações

Não sou a Puta
Não sou a Louca
Não sou a Lésbica
Não sou a Dona de Casa
Não sou a Menina

Não nasci Clichê
Não nasci Estigma
Não nasci Tipo
Nasci pessoa

Pessoa de experimento e limite
Do sentido que criei, de ruptura
dos rótulos, dos mecanismos
Do conhecimento da lógica
Da falência dos discursos

Nasci do encanto da amizade e amor
Que encobrem a brutalidade e joguetes

Eu não sou o tipo dos livros,
Dos contos de fadas, dos arquétipos, das fábulas, das piadas
E outros calculáveis

Nasci com o dedo apontado na cara,
Até a primeira mordida.
Da expressão quente no rosto
E liberdade e vontade de Ser
Conforme se pensa e repensa

Entre o erro e acerto
É uma construção
Uma pessoa

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Avesso


Amigos vislumbrem!
Oavessoéadimensionalpuroorgânicodecorrent
eelétricaimpulsiva
amorfadecertezasétodopuroevermelhointenso
comraízesprofundasema
ranhadascomnaturezafielaoinstinto

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Presépio


Este interminável Dezembro, longo e escuro, ainda que Verão
Meu Dezembro chove, nubla, congela e desbota
Desbota a decoração natalina pendurada nas lojas desde Outubro
Azevinhos incitam o beijo
Placebo para o afeto tetraplégico


Pout-porri de embriaguez, bolas coloridas
Luzes!
Guirlandas, Prozac e embrulhos embaixo do pinheiro de plástico

É meia noite hora da ceia
A família em torno de peru e castanhas
Abraçam-se todos, como que ignorando os tapas e impropérios trocados durante o ano,
Desejam-se polidamente [cínicos] felicidade
Rezemos: Obrigada pelo pão e vamos comer!
Todos sentados à mesma mesa, intrincheirados por egocentrismo e estranhamento
A mãe de olhos cansados pela exaustão na cozinha
Filhos apáticos às tradições,
O pai destrincha o peru
Corta o pedaço de carne usurpador da metade do seu 13º salário
As crianças resmungam pra comer, já se entupiram de panetone

Abram os presentes!
Aaah! Mas eu queria um Playstation 3!
[Choro estridente e mimado]
Convidados constrangidos,
Situação embaraçosa
E pais decepcionados pela perda da última conexão que o poder de compra fazia com sua prole


Mas ainda é Natal!


E vamos desfarçar muito bem a falta de intimidade
Puxe assunto sobre o tempo,
Fale mal da política,
Conte piadas,
Beba mais vinho,
Encha mais uma taça pra sobreviver à essa noite
Aí! Dê mais uma gargalhada histérica e fale alto pra descontrair

Olhe como todos se divertem!
E sentam e levantam e elogiam a cozinheira numa coreografia que faz inveja ao Lago dos Cisnes
E riem da piada velha do tio gordo e solteiro
Enchem a boca de hipócrita risada oleosa
Gordura que escorre entre os labios frouxos e mancha o tapete
Novo, pago a prestação, coordenado com as cortinas


Ah a união familiar!

Noite feliz!

E riem mais, e comem a sobremesa e cansam, um café um licor?

E vão

E fica a louça para lavar, retalhos de papel de presente coalhando o chão

O banheiro vomitado e a dor da cabeça cansada, engolida pelo travesseiro


quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Civilização


Ah! Civilização!
Tantos anos de história que negou.
Tantos ícones e ditadores
Como se permite esquecer?

Sedaram –te com ignorância
Com esquecimento e ignorância
E é reproduzida nas escolas, nos bares ,
Nas igrejas, famílias.

Que quer do teu futuro?
Consumir seu próprio meio?

Morre de fome de minério!
Morrem queimadas suas raízes!
Por que tem sede de petróleo.
As industrias, não respiram
E de cana se alimentam.
Nos sustentáculos da exploração,
Evolui!

O teu remédio é mercúrio
Pra coração de ouro.
Faz reluzir as ambições humanas.

Consome as riquezas da terra
Nômades são as industrias trans-nacionais
O velho canibalismo do capital
O desejo dos homens, sobrepõe a razão !

Morrem de fome também seus filhos.
Fome de pão. Fome de sua liberdade.
Fome de educação.
Morrem afogados no tic-tac dos relógios.
Morrem no funcionalismo, em suas tradições,
Morre a capacidade criadora na humanidade

Ah ! Civilização !
Que compõe todos os moldes, comporta seus equívocos
E os mantém sobre sua lógica cínico-pacífica,
os estereótipos regulamentados.

Com outros tipos avessos, em busca pela felicidade.
Até o relógio despertar e venha à mente
Seu desprezível salário e angústias de final do mês
Relembrando do tempo que tem que dispor
pra garantir a sua sobrevivência.
Enquanto se esmaga emocionalmente,
o sentido de Realização.

Ah! Civilização !

Esmagou a capacidade inventiva humana
O condicionamento gerado pelo tempo
Tempo que despencam as ações.
Tempo que é moeda e hora extra.
Tempo de sua falência ética
Das grandes industrias da cultura e do sexo
Tempo que se faz história !

História descartável
De solidões descartáveis e capital !
O quanto vale?

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Grito




Foi um grito!
Destes de ensurdecer.
Já não me ouço, me abstraio!

Liberta não sou corpo
Sou molécula
Energia vaga

Divaga uma lágrima
De óleo sobre tela
Eterna no finito.

Em cada existência.

domingo, 14 de dezembro de 2008

porn

Deixe-me despir meus pensamentos,
descobrí-los de toda máscara que a convivência social os impõe.

Deixe-me assumí-la, oh idéia obsena,
Rasgar-te-ei as roupas, rompendo cada um dos botões,
Descosturarei-lhe a educação
Afrouxar-lhe-ei a polidez
Desamar-lhe-ei a etiqueta

A partir daqui deixe os intintos nos guiar,
Confrontar-te-ei, psiquê animalesca,
Mas agora nua, não me parece tão feia,
Prostituta usada em intorpecência e carência,
Torná-la-ei minha esposa, Amante Ilegal

Sua essência grotesca tem belos contornos,
Silhuetas de sombra
Bloqueiam a luz da civilidade
As formas fluem ainda que toscas
Intrínsicas em mim,

Tentei prendê-las
Parecer mais ajustável ao meio
Talvez se eu esconder um pouco
Gostar-se-ia mais de mim?
Seria eu mais amada?

Mas não mais,
Agora gritarei a plenos pulmões
cada sensação
Ainda que absurda
Nascida de mim

Ensandecida em sinestesia e primitivismo
Uivarei,
Gritarei,
Gemerei [por quê não?]
Promiscuidades,
Impropérios,
Heresias

E cada um dos sons guturais
Pelos quais meus hormônios clamarem
E cada linha de culpa cravada na minha expressão se apagará

Me agarro ao instinto quase criminoso
Estupro convenções
Despedaço comodismos
E agora só agora
Essa coisa inominável,
Puro carbono e hidrogênio,
Meu alicerce pra evolução
Permite-me caminhar além da ortografia e da gramática,
Leia-me, o livro aberto de rituais pagãos,
O manual herético
Eu quero pura semântica biológica,
E foda-se o arcaidismo da mesóclise,
E foda-se seu esteriótipo,
E foda-se o meu medo de não aprovarem minha produção,
E foda-se a forma na qual eu não caibo,
E foda-se sua censura inquisidora,
E foda-se seu julgamento covarde,
E foda-se o meu medo de tudo... e o seu e o dele também,
E fodam-se eu e você
Talvez dessa sinapse gametófita
Eu o infecte com minha loucura dadaísta
E faça tantos loucos
Tontos
Inconsequentes
e Roucos

sábado, 13 de dezembro de 2008

O REI ESTÁ NU


- Eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nu.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Lembranças


Reviro-me ao lembrar,
Pasmo-me ao acreditar,
Anseio renunciar.

Esforço a esquecer,
Antigo padecer,
Grande ditador.

Estático sigo,
Olhos vendados,
Pura paisagem.

Situação ignorada,
Memória socada,
Prozac da Dor.

Escuridão por opção:
Sorriso estancado,
Débito estampado.

Lembranças são fragmentos paradoxais.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O cuspe de mim

Você já parou se ouvir? Já parou pra ouvir aquela voz que ecoa dentro de você? Você já parou pra pensar que às vezes quando você fala o que você pensou não foi a mesma coisa? Você pensa muito mais do que você fala, mas o que você fala vem em fragmentos. As pausas que você faz pra falar são os fragmentos perdidos dentro de você. Os fragmentos que você na verdade tem medo de falar. Quantas coisas você pensa e não fala? Quantas coisas você deixa morrer na garganta? - E qual é o barulho que você escuta quando tenta se ouvir? Quais são as palavras que ficam batendo repetidas dentro de você? Dentro das paredes que você cria? Eu me trancafio dentro de mim com medo de me ouvir. Eu tapo meu ouvido dentro de mim. E tento tapar minha boca. Mas dentro da gente não tem boca. Tem o que você pensa, e o que você é de verdade. Você quer ver o que você é de verdade? Ou você vai se fingir de míope, se fingir de cego. Ou vai dizer: "Ahhh, eu tenho um visão turva, conturbada das coisas". LARGA DE MENTIRA. Assume o teu eu. Assume! E bate no peito. Tenha orgulho de ser quem você é. Tenha orgulho de repetir o seu nome completo. Tenha orgulho de gritar para o mundo a sua idade. Falar que você é jovem, falar que você é velho. Ou que você é apenas uma criança. - Quantos de nós não temos apenas sete anos dentro da gente? O coração que bate é sempre mais novo do que a gente sente. Os amigos de verdade continuam cabendo, e é quando o coração deixa de ser de criança. Porque no de criança cabe mais brinquedo. Cabe mais ilusão, menos briga, mais choro. Choro pingado, miado, que cabe num pires de café. Só não cabe numa colher porque uma colher de café não compra um brinquedo. Um pires pode ganhar uma bala. Uma xícara, aquele carrinho barato da esquina. - Quanto choro cabe dentro de nós? Quanta dor a gente produz em um, cinco, dez anos? Ou numa vida inteira? Toda a dor que você sentiu até hoje, você seria capaz de sentir em um dia só? É justamente por isso que os dias são longos e arrastados, espalhados por uma vida inteira. Porque se não a gente vivia um dia e era suficiente. Mas não, a gente vive uma vida inteira. Pra cada dia sofrer um pouco, sorrir um pouco, amar um pouco, chorar um pouco, e no final de tantos poucos ter feito uma vida inteira repleta de sensações. Sensações que cabem em um dicionário, mas não cabem de uma vez só dentro da gente.

AmaDureCer




Tenho sido

parecido palecido,
enrigecido endurecido,
estremecido amortecido,
torcido e retorcido

escorrido...






RASGADO.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Observações de uma tarde monocromática

Cidade cinza, pessoas pálidas, letreiros, cartazes e panfletos oferecem o colorido artificial, placebo dessa gente. Hordas de pessoas marcham pela Paulista, a barraca de flores destoa do cenário, assim como a avermelhada decoração natalina de azevinhos e guirlandas e brinquedos e duendes destoa tb do concreto denso como o prórpio ar que se respira, é puro asfalto.
Olhos vidrados e baixos dos que correm perseguindo os ponteiros do relógio atrás do tempo perdido, hamsters desenfreadamente correm para contiruar parados, mas do que passar uns pelos outros, se atravessam, invisíveis e impalpáveis, sublimaram o corpo para sons e rotinas e prazos.
E marcham legiões romanas organizadas desde o princípio da urbe, adestrados na disciplina da sobrevivência da selvageria canibal cosmopolita. O tempo [toc toc toc] da música a qual dançam os bailarinos [soldados?] blindados de óculos escuros e armardurados em ternos, dançam no ritmo da sinfonia urbana de explosões businas; celulares; máquinas rangem; moedas tilintam; relógios tic-tac e passos, passos apressados e rígidos, endurecidos soldados à massa de metal e amalgamados à todas engrenagens da maquinaria que soa, um instrumento novo que abafa as batidas dos pobres corações afogados em desespero.

Reflexões para Babel

(Segundo o que narra o primeiro livro da Bíblia, Gênesis, a humanidade teria se unido para construir uma torre que chegasse ao reino dos céus. Essa torre era Torre de Babel. Deus, porém, ao ver que os pobres mortais ansiavam chegar a Ele, planejou para confundir a linguagem humana e fez com que cada homem a trabalhar na construção da Torre falasse uma língua diferente. A dificuldade de comunicação acabou com o trabalho humano na Torre de Babel.)



Babel, hoje vejo tua nova dança.
ainda tentas teu velho anseio reprimido.
ainda tentas dedilhar àquilo a que foste privada.

queres ainda um pedaço daquilo a que foste tirada?
sê tu concretização pioneira de vaidade humana?
sê tu poesia concreta da primeira possível realização de união
de homens que falavam a mesma língua?

quiseres ser grande demais, Babel.
houve um deus que a isso não permitiu.
confundiu línguas, multiplicou linguagens,
atrofiou trabalho às tuas criaturas
para que não pudessem atingir ao reino dos céus
antes de seu dito juízo final.

porém, Babel, os tempos mudaram.
nessa dança contemporânea,
esse deus hoje troca seu filho com humanos.

ele jogou seu filho na Terra para pagar pecado humano.
hoje ele o troca aos homens por uma dita salvação.
por um espaço no reino dos céus.

Babel, se não foste tu
a derramar diferenças, a instaurar confusão
o que haveria, Babel?

discrepâncias linguísticas não impediram-te.
ainda soubes driblá-lo, ainda sabes, ainda sobes.
e multiplicou-te.

sobes vertical, mais alta do que nunca.
sobes em satélites, somes em aviões.
confunde hoje tu aos olhos de deus,
de um deus que não mais confunde aos olhos teus.

a que anseias ainda, Torre de Gênesis?
caladas não foste por um deus medroso!

deus temeu tua Ira.
deus temeu teu crescimento.
mas de Ira nutriu-te,
fê-la mel suculento a teu condicionamento.

e hoje cresces mais.
e hoje alcanças estrelas,
e hoje trocas informações com outras constelações.
permites aos sonhos voarem pela janela entreaberta
para aquele deus não ver que saiu.

hoje faz-se dura poesia concreta a cada esquina.
hoje, Babel, abrigas a tantos...
tantos ainda desesperados
a chegarem ao reino dos céus...

alguns destes também trocam seus filhos, Babel.
como deus.
uns vendem, uns doam, uns compram.
mas todos trocam, Babel.
como papai ensinou-lhes.



Babel,
creio que Capitalismo começou a ser teorizado em Mateus. e continuou em Marcos, Lucas e João: santíssimo quarteto do Evangelho. Consolidou-se na historiografia de Atos, desenvolvendo-se nas Epístolas Paulinas e Católicas. clímax com Judas e o final é profético em Apocalipse.

Porém o Medo...
este começou em Gênesis.

O Medo começou no Princípio.
E era Verbo.
E o Verbo se fez Carne.

domingo, 7 de dezembro de 2008

O que amedronta são os olhos.




É menino arrastado. É menina defenestrada. É pai que esquece filho no carro.
É gente que esquarteja criança. É pai que estupra e esconde filha no porão.
O plantão da Globo tocou sua musiquinha, atenção à telinha, é desgraça mais uma vez!
Foi assalto ao banco. Foi crime organizado que fez de refém o filho da juíza.
É mais um espetáculo a encher a atenção coletiva.

Mas o que amedronta já não é mais menino que fuma pedra. E nem menina que passa cinco horas no salão depois de banho de loja. O que dói é menino que fuma pedra enquando menino joga video-game. Mas o que amedronta não é isso. O que amedronta são os olhos. Assalto à mão armada já não assusta mais, é mais uma bala disparada em ditos inocentes, é mais negro na penitenciária, é mais moleque da favela sendo esculaxado por Polícia. É mais estatística, é mais um número computado. Mais um número pra fazer sensacionalismo em jornais e TV e escandalizar mocinhas e entristecer donas-de-casa. Mas o que amedronta mesmo são os olhos. Os olhos do menino que segura a arma. Os olhos do menino já não chamam por cuidado. Já não clamam por amor ou por atenção. Clamaram mudos, rogaram surdos, tremeram atrofiados. Já não derramam lágrimas, já não suam frio, secaram. Acinzentaram. Os olhos fizeram-se pedras rígidas, embrutecidas por sucessivo descompasso e afetos soterrados. A boca grita e ruge, ouvidos são atentos aos mínimos ruídos, mas os olhos já não sabem para quê olhar. Seguem apenas fixos, imóveis, num torpor amorfo. São expressivos, são misteriosos, apontam desconhecida direção de anseios reprimidos em pauladas e cacetetes. Mas são estáticos. Parecem vidrados. Parecem hipnotizados. Parecem até causais. Longe de ser convicto ou inabalável, o que amedronta é que o olhar segue cravado e inalterado.

O antecedente de cena de jornal foi clamor ignorado.
Qual será a sucessão desse olhar acinzentado?



sábado, 6 de dezembro de 2008

Sentidos




fluxos envolvem, atenção dilui, fundem-se movimento, cor e som.
presa já não estou, em presa converti, em pressa abrangi.
velocidade desgovernada e freio parece esquivar.
para onde vão?

direção desconhecida, dúvida alarmada.
pêlos eriçados e olhos envergonhados.
o ouvido aguçado a procurar ruídos familiares e nada encontrar.
para onde vai?

placas seguem a apontar caminhos, mas são alheios.
o volante segue à mão estranha e o coração dispara.
olhar espanta, boca entreabre.
o vento que conduz cega.
para onde vou?

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Minha poesia concreta

 O  M U N D O

    P R E S O

AO  M U N D O

    P R E Ç O

  I M U N D O

    M U   D O

A   M       O

      A M O R

             L

              I

               V

                R

                 E

Vitrine


Salto estancado da história
Palavra vitrine nos sorrisos cativantes, clichê.
Doçura pálida, anoréxica de personalidade
Sutileza etiquetada nos lábios doces de silicone
Grito plástico de produtos-beleza
Alma maquiada na mobília corpórea.
E já nem sentem e já nem sangram.
Sintéticas, do modo de produção.
No estereótipo patético das manequins,
que consome sérias mulheres.

Viva a integridade das bonecas!
De plástico ou pano, nunca quebram.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Tie-Die Esquizo



Vermelho rubro de paixão, de sangue que aflora do êxtase, chorei vermelho no adeus e gritei vermelho no gozo, odiei vermelho, amei vermelho.
Laranja energético contagiante, hiláriante e eufórico, ri e contei piadas alaranjadas, laranja de pôr-do-sol de suspiros de saudades, de manhã quentinha que reflete nos óculos escuros.
Amarelo de cor de brinquedo, de porta de escola primária, de almoço de domingo, batata frita comida sentada na calçada.
Verde saudável e vibrante, verde fotossíntese, verde grama, verde folha da goiabeira na qual sentava pra ler.
Azul do meu uniforme escolar, azul dos olhos daquele menino, azul da primeira caneta bic, azul da chama do isqueiro de maçarico que eu perdi.
Anil de roupa lavada secando ao sol, de calças jeans descoladas novinhas, anil de anoitecer estrelado no verão.
Violeta das flores da janela, daqueles sapatos que eu nao comprei, violeta da capa do caderno da quinta série.

Apagou o tempo as cores das minhas lembraças,
Sobrou um vermelho lavado dolorido escorrido e um laranja nostálgico e encardido,
Gruda em mim o amarelo doente e anêmico, o verde nauseabundo de rastro de lesma pegajosa, Me invade o anil de pílula placebo, azul desbotado de luto, de tatuagem mal feita,
E me enoja o violeta hematoma coágulo,
Espectros apáticos, refração distorção e difusão de psicanálise doentia

Memórias monocromáticas, desbotam descolorem lavam e esfregam e desgastam
E grudam
[Pegajosas
Viscosas]
E fedem
E secam
E ficam

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Cinza


Cinza
Cinza de grafite carbono. Dos motores dos carros. Da fuligem no rosto dessa gente.
Cinza, dos cacos e pés da Paulista. Dos prédios das grandes metrópoles. De sete tons e mecanismos. De humor sem graça. Do teu último trago de cartas queimadas. Metálico de engrenagens engasgadas. De carimbo velho e da Inquisição. Cinza de dissabores, amargura indizível. Existência indigesta, opacas multidões. E- terno cinza. Das queimadas consciências, inversão térmica. Poluído de branco e preto. De cinza e branco encarcerado. E branco pasmo de todas as cores.

Geme de Loucura e de Torpor


confundem-se ruídos, misturam-se sensações, já não se sabe ao certo o limite de cada uma das. falsas ilusões derrubadas à brasa da verdade, sorrateiras visões turvas convertidas em horas de preguiça e prostração, sólidos prazeres convergidos a instáveis ápices de alegria fulgaz. a espera de atitudes que não existem, o anseio em criar algo que não se faz presente ali, a fuga capaz de gerar caminhos alternativos. que sejam, que hão. são fugas, são medos, são menos, não se fazem dignos. a palavra ríspida, a frase violenta à ferida purulenta, a letra que fere sem nítido porquê, a dúvida que surge em dúvidas de afirmação infértil. egoísmos humilhadores, a posse do que não lhe é verdadeiramente, a farsa ao acordar de manhã e dizer um gemido de bom dia. o excesso de açúcar no café refletindo a falta de doçura em sua própria realidade, o exagero ao salgar representando a falta de condimentos para si. incoeso, ralo, barato e nem ao menos fétido. o descompasso do olhar que segue, a não clareza da palavra que profere, a sórdida náusea ao fundear aquilo que sempre te pertenceu. dúvidas emaranhadas em complexos-nós presos e amortecidos na garganta. sentido construido a partir da ausência de identidade interior, falso hino escorrido da boca, falsa presa acolhida em selva, falsos versos aclamados em urros de dor costumeira.


"geme de preguiça e de calor.
geme de prazer e de pavor.
já é madrgada:
acorda, acorda, acorda..."