Meio-dia,
Pega tuas coisas enfia na bolsa sai correndo...
Olha q vai perder o ônibus,
Chega correndo esbaforida no ponto e espera o monstrengo metálico chegar,
Chega correndo esbaforida no ponto e espera o monstrengo metálico chegar,
E chega estalando e businando e rangendo,
Com todos passageiros que rangem como ele,
Rangem de cansaço de fome, de tanto falar sobre nada e de tão cheios de vazio,
Passam pelo motorista e cobrador como se estes fossem também de aço e soldados aos canos,
Rostos suados, enrugados,
Cobertos de marcas e de cansaço,
As crianças parecem bem mais velhas com seus olhos graves e pensativos,
Se acotovelam, tropeçam, tossem, espirram respiram
Um espetáculo teatral grotesco como freak shows de circos itinerantes...
Uma curva à direita no largo do arouche...
O inseto singelo e delicado voa languidamente...
De asas alaranjadas como se quisesse guardar pra si o brilho do último pôr-do-sol antes q as partículas de sujeira cobrissem o último pedaço de céu,
E voava tão suavemente
Que entre o abrir e fechar de asas cabia toda a eternidade de cada sorriso e cada beijo,
Desenhava linhas sinuosas em seu vôo
E mostrava, tal qual uma dançarina burlesca mostra as ligas, a parte negra interna de suas asas,
Negra com pequenos pontos brancos,
Pedaços de noites de verão recordados e guardados para emergências futuras,
Pra noites nas quais apenas olhar para uma estrela resolve,
E o fragil inseto irradiava a magestade da sua rotina dançada,
Captando os últimos sinais da elegância em meio a brutalidade do viaduto,
Até se estatalar no vidro ao lado do meu banco,
E despencar ao chão carregando consigo o peso de todos os anjos decaídos,
e das almas corrompidas das crianças adulteradas,
Cede ao asfalto, à pedra e ao metal.
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