CLICK HERE FOR BLOGGER TEMPLATES AND MYSPACE LAYOUTS »

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

com pressão larga




Eu adoro meu carro. Ele é tudo para mim. A gente anda por aí, juntos, eu e ele somente. Nosso clima é ameno, tem ar condicionado. Nosso aroma é agradável, tem cheiro de carro novo. Eu o mando ao lava-rápido toda semana, ele sempre está cheiroso. Tem DVD, tem vidro e câmbio automático, e tem GPS também, super útil nesses dias de hoje. Vidro filmado de escuro tem que ter, né? Você sabe como é. Há dias meu vidro se quebrou. Quebrou-se em mil. Alguma pedra veio não sei de onde, não sei porque, deve ter sido um desses marginaizinhos que andam por aí a vadiar, quebrando vidros de carro por hobbie.


E agora a luz mudou, agora o jeito mudou, as cores, agora aquele branco me fatigou, fatiou, aquele lá, entrou em mim, me atravessou, vulto elétrico trêmulo e oscilante, em escuridão acendeu, dilatou, expandiu, contraiu e relaxou, transpirou. Finalmente respirou. Agora respiro outro ar. Desde que me quebraram o vidro, o ar se tornou denso. Não há mais proteção, não há mais detenção, exposto estou. Minha fôrma se rompeu, hei de espalhar, escorrer por aí, pulverizar, nascer, atiçar, aguçar, fazer, gritar, uivar, fazer caminhos, trilhas (d)e trilhos. Agora posso sair, sou livre, quebraram meus vidros, malditos marginais, como ainda não tinha provado esse cheiro, esse gosto, esse pó macioso asperizando em minha face, em minha alma, em minha carne, como? Como é desesperador. Como toma conta, invade, grita, cresce, aponta caminhos, bifurcações, atalhos, sinais, símbolos, coxias e cortinas, e asflato quente queimando os pés.


Eu ando tanto
de pés descalços
que quando piso
em asflato quente
já nem sinto mais
aquela ardência anterior.

Criou-se casca, cápsula.

Cegou-lhe a vista.
Taparam-lhe os ouvidos.
Sedou-lhe a boca a fita metalizada.
Prenderam-lhe os polegares com mesma fita.
Já não arde mais.


1 pareceres:

Dadá disse...

mas de vidro quebrado eh melhor, sem óculos escuros e sem sacolas na cabeça